Olá e bem-vindos a mais uma crónica!
Começo por agradecer o apoio de todos aqueles que de alguma forma, elogiaram a última crónica e que gostaram da iniciativa do projeto. Apesar de nem sempre ser simples falar sobre saúde e nutrição, pois são áreas complexas e por vezes sensíveis de abordar, acho que é importante transmitir alguns conhecimentos e assegurar que vos chega informação útil e de fontes seguras, que vos faça questionar determinadas coisas que às vezes se leem e ouvem. Espero acima de tudo que consigam ganhar uma maior bagagem, que vos permita fazer escolhas mais positivas e aumentar a vossa qualidade de vida.
“Melhorando os hábitos alimentares dos portugueses, cerca de 300.000 anos de vida saudável poderiam ser poupados (Global Burden of Disease Study 2017. Global Burden of Disease Study 2017 (GBD 2017) Results. Seattle).” – Portanto, apesar de difícil, vale a pena tentar contribuir para uma maior promoção de literacia em saúde!
Para hoje trago alguns tópicos que me foram “inquietando” neste último mês e que até se enquadram com o dia de hoje, Dia Europeu da Alimentação e Cozinha Saudável. É frequente ouvir-se dizer que “a alimentação saudável é…”; “o alimento X não faz parte de uma alimentação saudável”; “o alimento Y é saudável”; “ a dieta Z é mais saudável que a dieta ZZ”; e muitas vezes as informações que completam estas frases são contraditórias, sendo ou muito generalistas ou demasiado específicas e condicionantes. E com isso, a população fica confusa… “Afinal o que é uma alimentação saudável?; “Que alimentos é que são saudáveis?”…
A resposta por um lado é simples, pois uma alimentação saudável é aquela que nos traz mais saúde, que nos permite viver com energia, que nos fornece os nutrientes necessários ao bom funcionamento do organismo, que é compatível com as nossas necessidades e também com as nossas rotinas do dia-a-dia. No entanto tudo isto não deixa de ser relativo e mesmo que existam recomendações gerais, baseadas na evidência científica, a saúde é sempre algo muito individual.
Cada um de nós tem as suas próprias necessidades e aquilo que para mim pode ser considerado, neste momento, uma alimentação saudável, pode não o ser para a pessoa que está ao meu lado ou até mesmo para mim, numa outra fase da vida. E as razões são múltiplas, pois pode estar em causa uma patologia específica, uma intolerância ou alergia alimentar, algum tratamento esporádico, ou até mesmo uma localização geográfica diferente (se pensarmos num país em que seja impossível o acesso a determinados alimentos, devido a questões climatéricas ou de saneamento, aquilo que seria necessário fazer ao alimento a nível químico e/ou físico, poderia anular qualquer vantagem nutricional, e portanto o seu carácter saudável já não se justificaria).
Nos dias de hoje vive-se muito no fundamentalismo, do “tudo ou nada”, do 100% verdade ou do 0%; e o marketing diário que nos chega de diferentes formas, acaba por distorcer algo que é muito importante ter sempre presente: a regra e o respeito pela individualidade. O corpo humano não pode ser encarado como algo linear; o nosso corpo funciona como um todo, e cada indivíduo tem o seu próprio organismo, que funciona e reage de diferentes formas aos mesmos estímulos externos.
Devemos ver a saúde e particularmente a alimentação como algo complexo, que inclui diferentes condicionantes e não, como algo estanque e absoluto. Não há “A” dieta milagrosa, nem “O” alimento chave. Sempre que ouvirem afirmações deste tipo, desconfiem! Tentem perceber o que está por detrás e tentem interpretar com o bom senso, que é muitas vezes exigido nestas questões. Dando um exemplo claro e simples, “o sal dos Himalaias é mais saudável”; na realidade, se pensarmos bem, o sal dos Himalaias continua a ser sal e a provocar todas as consequências negativas que o seu consumo excessivo tem. É verdade que possui propriedades nutricionais interessantes, no entanto teríamos de consumir uma quantidade exagerada para usufruir dessas mais-valias; e se calhar poderíamos consumir um outro alimento em quantidades adequadas e ter esses mesmos benefícios nutricionais.
Por outro lado, existem sim, alguns conceitos base que nos guiam e que, fazendo ajustes e respeitando a individualidade de cada um, podemos adotar, para ter uma alimentação e uma cozinha saudável. Muitas vezes basta-nos ingerir determinados alimentos em quantidades adequadas, diversificar a escolha de alimentos dentro dos diferentes grupos, escolher alimentos frescos, minimamente processados, locais e da época e optar por métodos de confeção simples e caseiros, que permitam uma menor perda de nutrientes (por exemplo, menos tempo de cozedura e/ou menos água adicionada). Se pensarmos bem, esta alimentação e cozinha saudável baseia-se nos princípios que, há tanto tempo, a Roda dos Alimentos nos fornece – alimentação equilibrada, diversificada e completa, que respeita fatores culturais, gostos, preferências e crenças. A Dieta Mediterrânica é outro exemplo de guia/ferramenta para a adoção de um estilo de vida saudável, com uma alimentação e culinária associadas a uma melhor qualidade de vida.
De facto, há muito a explorar e existem muitas outras informações que poderíamos tentar desmitificar. Se gostarem deste tipo de conteúdo, poderei dedicar uma crónica apenas a mitos que vamos ouvindo sobre nutrição, saúde e bem-estar.
Espero que tenham gostado de mais uma crónica e até à próxima, mantenham-se na linha!
Maria Nogueira Santos,
Nutricionista equipa Vitamimos
Gosto muito que deixemos de pensar que há apenas uma maneira de sermos saudáveis. Podemos explorar os gostos e preferências de cada um, certo? Dentro dos limites aconselhados
Adorei ler, artigo muito bem escrito e interessante! Fico à espera do artigo sobre mitos na alimentação 🙂
Madalena