Olá! Estou de volta com mais uma crónica do Maria na Linha!
A ideia do tema para esta crónica surgiu após ter assistido uma série, documental, da Netflix que se chama “Babies”, que desde já recomendo que a vejam. É uma série muito interessante e completa que explora o mundo dos bebés, a partir da visão de cientistas e de famílias de todo o mundo. Em cada episódio é abordado um tópico específico, como por exemplo, o sono, a capacidade de comunicar ou a capacidade de gatinhar; mas foi no episódio da alimentação e dos primeiros alimentos, que me surgiu a ideia, de vos trazer algumas curiosidades sobre um alimento tão único e especial como é o leite materno.
O leite materno é, em muitos casos, o primeiro alimento que nós humanos consumimos e, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), consegue ser um alimento adequado e completo, mesmo dado em exclusividade até aos 6 meses de vida (podendo haver exceções nos bebés pré-termo). A OMS recomenda ainda que, mesmo após se iniciar a diversificação alimentar, o aleitamento materno deve fazer parte da alimentação do bebé, desejavelmente até aos 2 anos de idade. No entanto, após os 6 meses de vida, o aleitamento materno deve perdurar até que este, seja algo desejado tanto pela mãe como pelo bebé.
São muitos os benefícios do leite materno; mas o que vos trago hoje, são algumas curiosidades sobre a sua composição e a sua capacidade de se ajustar às necessidades do bebé e à sua capacidade metabólica (digestiva e renal).
– A composição do leite materno no início da mamada é diferente da composição do leite no fim da mamada. No início da mamada, o leite tem maior concentração hídrica e no fim, uma maior concentração de gordura. É por isso importante, assegurar que o bebé mame até ao fim para que se sinta saciado e devidamente alimentado, pois caso o bebé mame apenas o leite inicial (poucos minutos) e a mamada seja precocemente interrompida, o aporte nutricional poderá não ser o ideal.
– A composição nutricional do leite materno varia e ajusta-se ao facto de se tratar de um bebé de termo (37- 42 semanas de gravidez) ou de um bebé pré-termo (< 37 semanas de gravidez). Com a exceção do conteúdo em lactose (açúcar naturalmente presente no leite), o leite de bebé pré-termo é mais calórico e tem maior quantidade de lípidos e proteínas, que o leite de bebé de termo. Este facto, permite que um bebé pré-termo obtenha o conteúdo nutricional extra que precisa, por ter nascido precocemente.
– Existem também diferenças na composição do colostro (leite dos primeiros 3-5 dias) e do leite materno maduro (leite dos primeiros 26-29 dias), sendo o primeiro, menos calórico e com menor teor lipídico. O colostro é muito fácil de digerir (algo benéfico para o reduzido tamanho do estômago do recém-nascido) e tem uma quantidade elevada de anticorpos e de glóbulos brancos, altamente necessários à proteção do recém-nascido contra possíveis infeções e doenças que poderiam surgir no pós-parto. No fundo, a composição do leite vai-se adaptando às diferentes fases de crescimento do bebé e suas consequentes necessidades.
– Apesar da composição do leite maduro se manter relativamente consistente ao longo do tempo, pode haver momentos em que esta muda, perante uma adversidade. Há estudos que comprovam que quando o bebé está doente, a produção de anticorpos pelo corpo da mulher aumenta e esses acabam por ser transmitidos pelo leite ao bebé. Por outro lado, estudos comprovam que durante a fase em que o bebé começa a explorar o mundo e a colocar diferentes objetos na boca, o nível de enzimas protetoras que lutam contra as bactérias aumenta.
– Uma outra curiosidade está associada ao facto, do bebé conseguir adquirir mais facilmente a capacidade de autorregulação da sensação de fome e saciedade ao mamar. Durante a mamada, o bebé é independente para perceber quando é que está saciado ou não, acabando por comer apenas aquilo que precisa. Isto permite que o bebé desde cedo aprenda a gerir as suas necessidades e a forma como atinge a sua saciedade; o que em muitos estudos, está associado a uma menor probabilidade de a criança/adolescente desenvolver excesso de peso e obesidade e ainda, por conseguir regular melhor a sua ingestão energética e o seu eixo de fome-saciedade. De facto, a alimentação de um bebé saudável deve ser baseada na sua capacidade de interpretar os sinais de fome e de saciedade.
– O leite materno diminui a velocidade de crescimento no primeiro ano de vida, evitando o crescimento abrupto e acentuado e, desta forma, permitindo programar o acréscimo de massa corporal ao longo da vida. Atualmente sabe-se que quanto maior for o ganho ponderal entre os 0-2 anos, maior será a prevalência de excesso de peso e obesidade aos 5-6 anos.
– O leite materno contém a quantidade de água suficiente para suprir as necessidades do bebé; por 100 ml de leite, 87,1ml é água. Menos uma preocupação para os recentes pais!
– O leite materno, para além de ser constituído por macronutrientes (proteínas, hidratos de carbono e lípidos) e por variadíssimos micronutrientes (vitaminas e minerais), é rico em constituintes que o tornam inimitável. Esses componentes, são por exemplo, hormonas, enzimas e anticorpos: ácidos gordos, oligossacarídeos, linfócitos B e T, lactoferrina, macrófagos etc.; que têm ações imunológicas extremamente importantes, como ações antivirais, antibacterianas e anti-inflamatórias. Esta característica do leite materno permite, o reforço do sistema imunitário do bebé e a redução do risco de aparecimento de infeções e alergias futuras.
– O leite materno acaba por ser menos “exigente” que os leites de fórmula, no que respeita às condições de conservação; por norma permite ser conservado por mais tempo que o leite de fórmula, nas mesmas condições de armazenamento. O leite materno pode ser conservado à temperatura ambiente até 6-8 horas (2h no caso de leite de fórmula), a 4⁰C até 72h (24h no caso de leite de fórmula) e a -20⁰C a -40⁰C até 6 meses.
De facto, há muitas informações interessantes sobre o leite materno e sobre o processo do aleitamento. É sem dúvida, um tema que nos mostra o quão especial é o corpo humano! Espero que ao terem lido esta crónica, tenham percebido isso mesmo e ficado a conhecer um pouco melhor o alimento que nós humanos somos capazes de produzir.
Caso gostassem que abordasse mais temas relacionados com a fase da preconceção, gravidez e lactação, deixem por favor nos comentários, pois terei todo o gosto em falar sobre estas áreas que tanto me apaixonam, mas que simultaneamente trazem tantas dúvidas e receios às pessoas.
Fico à vossa espera para próxima crónica, e até lá, mantenham-se na linha!
Estou interessada nos temas de preconceção e gravidez!